CULTURA
O som inigualável da viola de cocho pelas mãos de Mestre Alcides.
Das suas mãos sairam violas que se espalharam por todo mundo.
Em 16/08/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Quem já ouviu o som de uma viola de cocho diz que nunca se esquece. Com forma e sonoridade singulares, esse instrumento possui cinco ordens de cordas, com duas possibilidades de afinação. Da vibração sai a base para o siriri e o cururu - ritmos tradicionais do pantanal. E a poesia vai pra além do som; apenas mestres artesãos entalham a viola de cocho de madeiras enteiriças. Essa é, inclusive, a profissão de Mestre Alcides Ribeiro e de sua família há quatro gerações. Aos 51 anos, o artesão está no Rio de Janeiro para representar essa tradição. Trazido pelo Governo do Mato Grosso, ele faz um tour pela Casa Brasil e pelo Rio Media Center para divulgar ao mundo os fazeres da sabedoria popular.
Em 2012, ele foi reconhecido pelo Ministério da Cultura como mestre da cultura popular do Mato Grosso, seguindo os passos do pai que ganhou o prêmio em 2009. Abaixo, ele conta um pouco da sua relação com viola de cocho, que está presente na cultura do estado há 300 anos.
O que é a viola de cocho?
É um instrumento musical encontrado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste brasileiro. E é considerada patrimônio histórico imaterial no Brasil desde 2004 e tem esse nome porque é esculpida em tronco de madeira inteiriço, assim como se fazem oscochos, utilizados para servir alimentação para animais no Pantanal. O instrumento se apresenta com cinco ordens de cordas simples. São várias as madeiras utilizadas: para o corpo do instrumento, a Ximbuva e o Sarã; para o tampo, raiz de Figueira branca; e para as demais peças, o Cedro.
Há quantos anos o senhor se dedica a produzir esse e outros instrumentos tão importantes para a cultura do Mato Grosso?
Alcides Ribeiro: Eu comecei aos 15 anos junto com o meu pai. No início, eu conciliava com outro trabalho, mas há 20 anos me dedico e vivo exclusivamente de produzir a viola de cocho. Com ela, já viajei para vários lugares e até mesmo para fora do país. Fico muito orgulhoso de levar a cultura do meu estado para outros estados e países.
Onde a viola de cocho pode ser encontrada?
Alcides Ribeiro: Hoje vendemos para lojas dos estados do Sul e do Sudeste do país. As violas também chegaram à França, Grécia, Portugal, Espanha e EUA. A venda que mais me marcou foi para um cliente que prometeu entregar a viola para o Papa Francisco.
Desde quando a viola de cocho está presente na sua família?
Alcides Ribeiro: A fabricação da viola de cocho é uma tradição na minha família. Foi um ensinamento passado de pai para filho. Eu já sou a quarta geração de artesãos do instrumento na minha família, e meu filho também já sabe fabrica-lo.
Como é feira a produção da viola?
Alcides Ribeiro: O processo de fabricação precisa de 8 a 10 dias e 80% da madeira que utilizo é de reaproveitamento. Normalmente, recebo doações ou vou em obras recuperar as madeiras que podem ser reutilizadas. Como já sou conhecido na região, as pessoas me avisam quando encontram algum tipo de madeira. Por mês, produzimos de 20 a 40 violas.
Como é apresentar a sua arte para o mundo todo em meio às Olimpíadas?
Alcides Ribeiro: Estou muito feliz com essa oportunidade única. Esse é um grande evento e me orgulho de estar aqui.
Fonte: Naila Oliveira