ECONOMIA CAPIXABA
Prejuízo do ES com paralisação no Porto de Tubarão é analisado.
Além dele, o píer de carvão do Porto de Praia Mole não poderá operar.
Em 23/01/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O maior porto exportador de minério de ferro e pelotas do mundo, o Porto de Tubarão, operado pela Vale, está com as atividades ligadas à mineração interditadas por tempo indeterminado. Além dele, o píer de carvão do Porto de Praia Mole não poderá operar.
A suspensão dessas atividades deverá gerar prejuízos para Vale e ArcelorMittal e reflexos negativos na economia capixaba, especialmente se a paralisação perdurar muitos dias.
Especialistas listaram impactos como queda de arrecadação para o Espírito Santo e para Vitória; multas por descumprimento de prazos junto a clientes; aumento das despesas com afretamento dos navios, que tendem a ficar mais tempo esperando na fila para conseguirem atracar; redução das exportações, comprometendo a balança comercial; perda de cargas para outros estados; revisão na produção das empresas; entre outros fatores que podem ser comprometidos.
Sem a operação dos terminais, ainda sobram dúvidas sobre o que vai acontecer com os navios que estão programados para chegar ao Complexo de Tubarão. Uma embarcação vinda da Alemanha, que atracaria, nesta sexta-feira (22), no píer 2 do Porto de Tubarão para ser carregado de minério, deve continuar fundeada na barra até que o impasse com a Justiça seja resolvido.
Para a próxima semana, outras duas embarcações estão agendadas para atracarem no píer 1, também no terminal de Tubarão. Segundo a Vale, os dois berços deste cais estão paralisados em função de uma manutenção programada. Mas o que dá a entender é que a manutenção deve ser encerrada até domingo, uma vez que há previsão para navios ancorarem nos dias 25 e 30.
Para os próximos 30 dias, estão na lista de atracação 39 navios, sendo 19 para o píer 1 e 20 para o píer 2. Já para o píer de carvão, em Praia Mole, está programada a chegada de 14 navios no mesmo período.
Uma fonte do setor, que preferiu não se identificar, disse que cada navio parado na fila chega a dar um prejuízo de pelo menos R$ 50 mil por dia. Para além das despesas e multas que as empresas ficarão sujeitas, especialistas temem que a produção das companhias sejam revistas.
Empresas
Procurada, a ArcelorMittal informou que a paralisação do descarregamento de carvão não afeta de imediato as suas atividades e reforçou que “tem seu foco direcionado em melhorar continuamente os controles ambientais, potencializando procedimentos e tecnologias”.
A Vale informou que o Porto de Tubarão, que é apontado como o mais eficiente do mundo de acordo com estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), foi responsável pelo embarque de 82,5 milhões de toneladas de minério de ferro de janeiro a setembro de 2015. No que diz respeito ao desembarque de carvão mineral, o Terminal de Praia Mole (TPM), que também faz parte do Complexo Portuário de Tubarão, foi responsável pelo desembarque de 8,9 milhões de toneladas de carvão mineral no mesmo período.
De acordo com a Vale, com a interdição, diariamente, o Píer II do Porto de Tubarão deixará de embarcar aproximadamente 200 mil toneladas de minério de ferro. Já o TPM deixará de receber cerca de 44 mil toneladas de carvão mineral. Cabe destacar que o carvão importado pelo Brasil por meio do Terminal de Praia Mole abastece grande parte da indústria siderúrgica nacional.
“Além dos impactos na economia nacional, com a interdição dos terminais portuários, cerca de 2.100 empregados que atuam diretamente na operação do Píer II e do TPM estão impossibilitados de exercer as suas atividades. Os impactos indiretos da ação da Polícia Federal sobre a operação dos terminais, no entanto, ainda não foram calculados”, diz a Vale.
Segundo a empresa, cabe destacar, ainda, que o Porto de Tubarão recebe continuamente visitas de clientes e concorrentes de todo o mundo na busca pela excelência operacional. Operadores portuários de diversas empresas ao redor do mundo foram treinados nas instalações do Porto de Tubarão e frequentemente são reciclados em nosso centro de capacitação, o Centro de Engenharia Logística, o que demonstra o seu status de referência no setor portuário mundial.
Reflexos
Se a paralisação dos portos se estender por muito tempo, o diretor técnico do Instituto Futura, Orlando Caliman, observa que os prejuízos para a economia serão drásticos. Ele cita que “tirar a Vale” de cena no mercado pode representar um rombo de cerca de 13% no PIB capixaba. Além disso, Vitória pode perder de 25% a 30% da receita de ICMS e uma massa salarial de mais de R$ 500 milhões por ano será enfraquecida no estado.
Desemprego preocupa o setor
A decisão da Justiça Federal de fechar Tubarão caiu como uma bomba no meio empresarial. Procurados pela reportagem, executivos com larga experiência em mineração e siderurgia, que preferiram não se identificar, se mostraram preocupados com a manutenção de empregos e também com a insegurança jurídica.
“De repente vai lá e fecha a empresa? Trata-se de uma prerrogativa perigosa. Que segurança jurídica é essa? Empreender já é coisa para louco no Brasil, se persistir essa virulência, a coisa piora”, assinala uma fonte com mais de 40 anos de experiência no setor.
Ele lembra da profunda crise que passa a siderurgia nacional. “A situação já é grave, as empresas já estão no aperto. Caso não tenham segurança para operarem no Brasil, fica mais difícil ainda. Já temos más notícias vindas de Usiminas e CSN, a ArcelorMittal está tendo de se virar. São 6 mil empregados no estado, todos sob risco”.
O Fórum das Entidades e Federações também manifestou preocupação com a interdição. “A medida extrema contra as duas empresas gera alta insegurança jurídica e pode, inclusive, desestimular a atração de novos investimentos”, pontua a entidade formada pelas federações da Agricultura, Comércio, Indústria e Transportes, e o Espírito Santo em Ação.
O presidente do Sindifer, Manuel Pimenta, endossa a crítica à decisão judicial e diz que a paralisação pode comprometer os empregos, a renda das famílias e a cadeia de fornecedores.
Como acontece a poluição?
O carvão que chega ao porto é retirado dos navios e colocado em funis através de guindastes. Durante esta operação, a substância pode se dispersar no ar ou cair na água.
No caso do minério de ferro, a esteira que faz o transporte do material é aberta. O vento e a própria trepidação da esteira faz com que as partículas caiam na baia.
No dia 29 de novembro, a PF foi até o porto em uma lancha e flagrou essa operação. Nas imagens, é possível ver o pó de minério caindo na água. A lancha utilizada pelos policiais federais ficou repleta de minério.
Quando as operações podem voltar?
Para que a Vale possa retornar as atividades, ela precisa se adequar às exigências da Policia Federal. Outra saída é recorrer a Justiça Federal para que a decisão seja cassada.
"Os píers e quatro guindastes foram lacrados. A Polícia Federal espera que a Vale proponha um projeto para o juíz demonstrando que as ações parem com o dano ambiental. A Vale pode recorrer da decisão. O Tribunal Regional Federal é quem avalia a volta das operações", disse o delegado federal Vitor Moraes Soares.