SAÚDE

Prática de ioga muda a vida de detentos no Quênia.

Objetivo é facilitar aos presos sua reinserção na sociedade.

Em 20/11/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Uma sensação de paz e liberdade os invade quando levantam os braços, respiram fundo e buscam o céu com o olhar, mas a vestimenta listrada, a cerca de arame farpado que rodeia o pátio e os guardas que vigiam suas aulas de ioga os lembram que continuam atrás das grades.

Na prisão masculina de Athi River, a 30 quilômetros de Nairóbi, um grupo de presos segue com atenção as instruções de sua professora Irene Auma, que duas vezes por semana vai ao local para dar aulas de ioga como parte de um dos programas de reabilitação do centro penitenciário.

"Todos necessitamos de uma segunda oportunidade em nossas vidas. Por isso comecei a dar aulas de ioga na prisão, para levar a eles a paz interior", explicou à Agência Efe esta jovem queniana que, com sua iniciativa "Peace Within Prisons", leva esta prática milenar a vários centros penitenciários do Quênia.

Todos em círculo, e vestidos com seu uniforme de listras brancas e pretas, trabalham a força e a flexibilidade através de posturas que lhes permitem eliminar o estresse e a tensão que acumulam em seus músculos. Não são só exercícios físicos; também os ajudam a manter a mente "em forma".

"Estou muito contente de praticar ioga. Me fornece muita energia e harmonia", comentou George, a quem a ioga mudou a forma de ver a vida na prisão, onde cumpre uma condenação de dez anos por "assalto", segundo contou.

Após experimentar os benefícios desta prática, ele assegurou que gostaria de ser um exemplo para outras pessoas que enfrentam problemas na vida.

"Quando sairmos, nós ensinaremos para outras pessoas. Recuperaremos aqueles com problemas com as drogas para que façam ioga", comentou entusiasmado.

Um dos objetivos desta iniciativa é facilitar aos presos sua reinserção na sociedade, onde habitualmente costumam ser rechaçados quando retornam após cumprir sua pena.

"Estamos dando ferramentas que os permitam entender a sociedade da qual procedem. Uma vez feito isso, é mais fácil para eles voltarem e se reintegrarem", destacou à Efe o responsável pela prisão, o agente Bison Madegwa.

É importante, segundo ressaltou, que os detentos tenham seu próprio tempo de reflexão para olhar para trás e tentar mudar os erros que cometeram no passado.

Alguns fazem isso através da ioga, mas o centro também mantém as tradicionais atividades planejadas para este mesmo objetivo: aulas de educação de ensino médio, oficinas de carpintaria e apresentações musicais, por exemplo.

Em Athi River, muitos cumprem pena por crimes de abusos sexuais. O respeito e a admiração dos presos com Auma - a única presença feminina junto a poucas guardas - é sinal de que não são as mesmas pessoas que há anos entraram pela porta da prisão.

"Este não é um bom lugar, mas quando temos este momento (de ioga), podemos passar bem e sentir que estamos em outro lugar. Sou muito feliz agora", afirmou David, que em fevereiro sairá de prisão após passar sete anos detido por roubo.

Uma vez que consiga sua ansiada liberdade, garantiu que entrará em contato com sua professora para poder continuar com estas aulas que lhe deram a energia necessária para seguir adiante.

Todos concordam que estas sessões proporcionaram bem-estar físico e mental. "Me sinto muito melhor agora. A ioga está nos ajudando a reduzir o estresse e a nos encontrarmos", salientou outro prisioneiro.

A ioga desperta cada vez mais o interesse entre os cerca de 900 detentos deste centro penitenciário, onde pouco a pouco o número de praticantes vai aumentando.

Alguns presos não tinham escutado falar de ioga até agora, e observam de longe com curiosidade os exercícios realizados por seus companheiros.

Sem esteiras, diretamente sobre a grama que cresce timidamente no solo, alguns deles se atrevem com acrobacias mais complicadas. Não mantêm o equilíbrio e caem em meio aos risos dos demais, mas não se rendem e tentam de novo.

Agencia EFE