CULTURA

Theatro Municipal do Rio de Janeiro comemora 108 anos

No repertório da banda marcial, muita brasilidade com várias músicas, além do parabéns.

Em 14/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A Banda dos Fuzileiros Navais abriu na manhã de hoje (14) a comemoração dos 108 anos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ), no centro da cidade, com apresentação na Cinelândia, em frente à imponente construção no estilo eclético. No repertório da banda marcial, muita brasilidade com várias músicas  Asa Branca, Feira de Mangaio, Vassourinhas, Cidade Maravilhosa e Aquarela do Brasil, além do tradicional parabéns.

Na sequência, o público entrou para prestigiar a apresentação dos alunos da Academia de Ópera Bidu Sayão e os estudantes da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, com coreografias para músicos  Strauss, Mozart e Chopin, além dos solistas do Theatro Mel Oliveira e Sandro Fernandes no pas de deux do balé Don Quixote.

O diretor Artístico do theatro, André Heller, ressalta o momento de união dos corpos artísticos e técnicos com “todos que lutam pela cultura” e com o público que ama o Theatro Municipal.

“A gente está falando da importância da arte, 108 anos de resistência mesmo, das coisas mais fantásticas, de como Toscanini, Maria Callas, até os grandes heróis da nossa música popular, grandes personagens brasileiros, Clementina de Jesus, Caetano Veloso,  Gilberto Gil, todo esse pessoal que já passou pelo palco, né. Villa-Lobos, Nelson Rodrigues, são tantas coisas, mas hoje é um dia muito especial dos corpos artísticos, onde eles oferecem junto com toda a nossa equipe pro theatro um dia inteiro de entrada franca para o público”, disse.

Heller destaca que o theatro é popular, apesar de ter atrações elitistas, e que o objetivo é popularizar as apresentações. “O theatro tem preços populares, de diversas culturas e é o palco da ópera, do balé, do concerto, sim, mas a gente quer popularizar isso, que é trazer as pessoas para terem acesso a esta cultura, porque é muito nossa, muito brasileira, nada de elitista e todo mundo merece conhecer e celebrar.”

Mãe de uma aluna da Escola Maria Olenewa, Emanuele Medeiros levou a filha Rebeca, de 6 anos, para prestigiar a irmã Yasmin, de 10, que há 3 anos está na escola estadual de balé. “É maravilhoso, nem todos tem a oportunidade de estar aqui visitando o theatro, então é aberto à cultura, é importante isto. Pra minha filha [estudar balé] é um complemento da educação  e abre portas para um futuro melhor, tanto no profissional, como no físico, na educação dela influi tudo. Então acredito que é também primordial.”

O bailarino Gustavo Rodrigues, 21 anos, veio de Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, com colegas e professores da Escola de Dança Movimentart para aproveitar todas as atrações do aniversário do theatro. “Vamos passar o dia todo, de fila em fila. Pra gente é muito importante, porque é muita inspiração, é uma revitalização para nós, que somos artistas e escolhemos isso para a vida. E é muito prazeroso fazer parte de todo este movimento que a gente sabe que é em prol de um levantamento e de uma apreciação que, infelizmente, parece que está se perdendo.”  

A programação comemorativa segue durante todo o dia. Às 15h30 é a vez da primeira-solista Deborah Ribeiro dançar A Morte do Cisne no Foyer, com reapresentação às 17h30 no Salão Assyrio. Às 16h o conjunto de violinos do projeto Pequenos Mozart e Amadeus apresentam obras clássicas e da música popular brasileira. O cantor Márcio Gomes apresenta seu espetáculo Eternas Canções no Salão Assírio às 16h e o encerramento da programação será com a cantata Carmina Burana, do compositor alemão Carl Orff, apresentada pela Orquestra, o Coro e o Balé do Theatro Municipal às 20h.

Outra atração de hoje são as visitas guiadas, que serão gratuitas, com horários às 13h30, 14h, 14h30 e 15h. As visitas contarão com a participação do ator Sacha Rodrigues, neto de Nelson Rodrigues, que fará a leitura de um texto inédito do avô, escrito no dia da estreia da peça Vestido de Noiva, no TMRJ.

Crise

A comemoração ocorre em meio à grave crise financeira no estado. Os funcionários chegaram a entrar em greve por falta de pagamento no fim do ano e apresentações tiveram que ser canceladas.

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos servidores da Secretaria de Estado de Cultura, pasta à qual o TMRJ é vinculada, Manuel Mendes, a categoria está com três meses de salários atrasados. “Nós estamos fazendo um sacrifício muito grande, um esforço para não deixar o theatro fechar. Não é pelo patrão ser o governo, mas o dono do theatro é o povo do estado. A gente já está penalizado, então penalizar o povo mantendo o local fechado não seria justo.”

Integrante do coro, Mendes explica que os trabalhadores tem contado com a solidariedade para sobreviver, como no ato ocorrido em maio, para arrecadar doações. “Está sendo feito um esforço, algumas pessoas estão colaborando, já recebemos várias doações de cestas básicas, doações em dinheiro e a gente vai e ajudando da maneira que pode, pra não deixar o theatro parar. Em maio fizemos uma manifestação aqui na frente que foi um grande sucesso, repercutiu muito bem tanto no Rio de Janeiro como no Brasil inteiro e no exterior.

De acordo com ele, a expectativa é que os pagamentos se normalizem em 60 dias, após o governo do estado anunciar que deve fechar acordo de socorro financeiro com o governo federal.  

Para o diretor Artístico do theatro, André Heller, a arte não disputa orçamento com outros setores essenciais e, além disso, ajuda a superar a crise levando “conforto à alma” das pessoas.“Claro que a gente tem esse problema, mas a gente tem solução. E uma das soluções é esta força que a arte tem, esta união dos corpos artísticos."

"Quero passar uma mensagem de otimismo, eu sei que eles vão ganhar, que esta equipe, este grande poder da arte, eles vão triunfar sobre momentos que não são culpa nossa. Não é o theatro, a ópera, o concerto que tira dinheiro de outras coisas essenciais, nós nunca competimos com isso. Nós damos cura para a alma, de certa forma, é um alento. Então, nesse momento de crise, é o nosso remédio, é o que nós podemos oferecer. O mais importante em falar de crise é falar de criatividade, de esperança, e importância do Theatro Municipal do Rio de Janeiro para o Brasil inteiro, ele está no coração de todos nós,” explicou.

(Foto:Daniel Castelo Branco)